sábado, 26 de outubro de 2013

CHACINA DE VIGÁRIO GERAL - Vigário Geral, RJ (1993) - 28ª edição



ACENDENDO O PAVIO

Narrativa da Revista Veja, edição 1304 – na madrugada entre os dias 28 e 29 de agosto de 1993, quatro policiais militares suspeitos de extorquir traficantes, estacionaram a viatura na Praça Catolé da Rocha e foram abordados por traficantes, liderados por Flávio Pires da Silva, o “Flávio Negão” (chefe do tráfico de Vigário Geral) – que acusava o sargento Ailton de ter sequestrado e matado seu irmão em 1992: o sargento Ailton Ferreira dos Santos (suspeito de liderar o grupo de policiais) morreu com um tiro na nuca; o soldado José Santana com um tiro na cabeça; o soldado Luis Mendonça com um tiro no olho direito; e o cabo Irapuan Caetano, o único que já havia embarcado na viatura, recebeu um tiro na testa e outro no olho. Essa possível extorsão NUNCA foi comprovada, baseada apenas em testemunhos.

De acordo com investigações posteriores, descobriram que os policiais estavam à revelia do batalhão, do centro de comunicações e que a guarnição formada não era a que deveria estar presente naquele momento.



A EXPLOSÃO

Dia 29 de agosto de 1993 – jogo entre Brasil e Bolívia. Por volta da meia-noite, alguns homens encapuzados e fortemente armados entraram em Vigário Geral e fizeram 21 vítimas que sequer tiveram chance de se defender:
=> na Praça Córsega, um grupo metralhou todos os trailers de ambulantes que vendem bebidas e refrigerantes e fez a primeira vítima, Fábio Pinheiro Lau, de 17 anos. Depois executou Hélio de Souza Santos, de 38 anos, metalúrgico desempregado.

Em seguida, um grupo chegou ao Bar do Caroço, na rua Antonio Mendes, de propriedade do aposentado Joacir Medeiros, 69 anos, dando “boa noite”; todos responderam. Um dos homens quis saber quem trabalhava: todos trabalhavam; deram o entender que iam embora, mas um encapuzado jogou uma bomba de efeito moral e iniciaram os tiros. Morreram Joacir; o enfermeiro Guaracy Rodrigues, de 33 anos, caiu no salão; o serralheiro José dos Santos, de 47 anos, no balcão; o motorista Paulo Roberto Ferreira, de 44 anos, caiu no banheiro; o ferroviário Adalberto de Souza, 40 anos, e o metalúrgico Cláudio Feliciano, de 28 anos, no depósito; e Paulo César Soares, de 35 anos, em um corredor sem saída.



Mais dois grupos agiam pelas ruas: um grupo que cortava fios dos telefones públicos e, ao se depararem com o gráfico Cleber Alves, de 23 anos, que ia para casa – que segundo testemunhas implorou para não morrer – o mataram ali mesmo.

O outro grupo estava na rua de acesso a outro bar e, pelo caminho, vinham 2 amigos que foram assassinados: Clodoaldo Pereira, de 21 anos, e Amarildo Baiense, de 31 anos. Perto dali, vinha o mecânico Edmilson Costa, de 23 anos, que também voltava para casa, com sua esposa, Rose Maria, de 25 anos, e as duas filhas pequenas. Os assassinos mandaram ela correr com as duas filhas sem olhar para trás: mataram Edmilson.

Invadiram a casa em frente, de uma família de evangélicos, pertencente ao vigia Gilberto Cardoso dos Santos, de 61 anos. Todos dormiam e Luciano, de 24 anos, acordou com o barulho e quis saber o que estava acontecendo... recebeu ordem para que não levantasse. Mataram Luciano e Lucinéia, de 23 anos, no quarto, mataram dona Jane, de 58 anos, abraçada com a nora Rúbia, de 18 anos e, aos seus pés, ficaram os corpos do marido Gilberto e da filha Lúcia, de 33 anos. Na sala, Luciene, que completaria 16 anos na semana seguinte, foi estuprada e assassinada no sofá. Lucinete, de 27 anos, caiu perto da porta. Os assassinos mandaram quatro crianças, entre 9 e 5 anos, taparem o rosto antes de morrer – um dos criminosos não concordou e mandou que as crianças fugissem... quem liderou a fuga foi a menina de 9 anos que carregava no colo sua prima, um bebê de 15 dias.



Vigário Geral virou uma praça de guerra: a população não permitia a entrada de policiais e agiam com as únicas armas das quais dispunham: gritos, pedras e paus.


PROCESSO

A primeira lista de suspeitos foi apresentada ao Ministério Público por um ex-policial militar, Ivan Custódio, que caiu em contradição no decorrer do processo. Inicialmente, disse que soube do fato na segunda-feira imediata ao crime por um dos acusados, o soldado José Fernandes Neto – seu sócio em barcos de pesca em Sepetiba e integrante de uma quadrilha da qual ele fazia parte – tomando conhecimento de todos que participaram da chacina... depois, pediu ao juízo para se retratar.

Essa lista tinha policiais militares do 9º BPM, policiais do DESIPE, garis... segundo um depoimento, após o assassinato dos policiais, houve um acordo para “cobrar” dos traficantes a morte dos policiais, porém, os policiais do BOPE ocuparam a favela... mas a deixaram no mesmo dia. Nunca se soube QUEM deu ordem para o BOPE sair de Vigário Geral. Segundo Emir Larangeira, se o BOPE não tivesse saído, a chacina não teria ocorrido.

No início das investigações, foram presos cinco policiais militares, no Batalhão de Choque, no centro do Rio: na casa de um policial chamado Hélio Vilário, a polícia encontrou dezessete capuzes, uma peruca e uma mira laser para pistolas; na residência de um cabo chamado Paulo Roberto, descobriu uma carga pesada de armamentos, inclusive munição para pistolas 380, 45 e 9mm e fuzis AR-15, além de um Santana verde metálico semelhante ao carro visto por uma testemunha da chacina.

Dos 51 policiais militares denunciados no processo, apenas 7 foram condenados, alguns morreram no decorrer do processo, outros foram absolvidos e alguns estão foragidos.

Condenados:
Paulo Roberto Alvarenga, à 449 anos e 8 meses de prisão, em abril de 1997 e, através de um Habeas Corpus, obteve o reconhecimento de crime continuado e o STF reduziu sua pena para 57 anos. Houve novo recurso da defesa – Protesto por Novo Júri – condenando, por unanimidade, em 24 de julho de 2005 à 30 anos. Em liberdade condicional.

Paulo Roberto Alvarenga

José Fernandes Neto, condenado à 45 anos em 2000, confirmou a constituição de uma sociedade informal com o sargento PM assassinado, Ailton, por 2 anos e que tinham três barcos aportados em Sepetiba e Angra dos Reis. Após Protesto por Novo Júri, foi condenado à 30 anos também por unanimidade. Recebeu livramento condicional em 2006.

Arlindo Maginário Filho, condenado à 441 anos e 4 meses de reclusão, em novembro de 1997, também teve sua pena reduzida pelo STF e, no segundo julgamento, foi ABSOLVIDO por falta de provas; também acusado de participação na Chacina de Acari – que já prescreveu.

Sirley Alves Teixeira, condenado a 59 anos e 6 meses de reclusão em setembro de 2003, após ser preso em um assalto à banco (estava foragido). Também fora condenado anteriormente por porte ilegal de arma, uso de documento falso e à 8 anos de reclusão por roubo (este pela Justiça Federal), além de, na época, responder a outro processo por homicídio. Não conseguiu provar que estava de serviço em uma cabine da PM, na Praça Seca, na noite do crime. ÚNICO que permanece preso até hoje... acredito que não por causa deste episódio.

Adilson Saraiva da Hora, condenado a 72 anos de reclusão, também acusado de participação na Chacina de Acari. Em seu segundo julgamento, foi ABSOLVIDO por falta de provas.

Alexandre Bicego Farinha, condenado à 72 anos de reclusão no ano 2000; no ano de 2003, levado novamente à julgamento, foi condenado à 59 anos e 6 meses. Foi assassinado em Realengo, no dia 12 de maio de 2007, por suposto envolvimento com a exploração de transporte ilegal na região. Estava em um automóvel Fiat Strada, na companhia de dois sobrinhos, um deles atingido por disparos, morreu no hospital. A PM não soube explicar porque ele estava em liberdade.

Leandro Marques da Costa, o "Bebezão" ou "Miúdo"

Leandro Marques da Costa, foragido, NUNCA foi julgado pela chacina. Segundo informações, foi o pivô do assassinato da família de evangélicos por ter tirado o capuz e a peruca loira dentro da casa... dizem que já o viram trabalhando como taxista no subúrbio do Rio.
Documentário completo sobre Vigário Geral

                                                  Reportagem sobre os 18 anos do crime


Fonte: Extra online
           Estadão.com
           R7.com – Blog “Onde o vento faz a curva lagoinha”
           Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro


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