ACENDENDO
O PAVIO
Narrativa
da Revista Veja, edição 1304 – na madrugada entre os dias 28 e 29
de agosto de 1993, quatro policiais militares suspeitos de extorquir
traficantes, estacionaram a viatura na Praça Catolé da Rocha e
foram abordados por traficantes, liderados por Flávio Pires da
Silva, o “Flávio Negão” (chefe do tráfico de Vigário Geral) –
que acusava o sargento Ailton de ter sequestrado e matado seu irmão
em 1992: o sargento Ailton Ferreira dos Santos (suspeito de liderar o
grupo de policiais) morreu com um tiro na nuca; o soldado José
Santana com um tiro na cabeça; o soldado Luis Mendonça com um tiro
no olho direito; e o cabo Irapuan Caetano, o único que já havia
embarcado na viatura, recebeu um tiro na testa e outro no olho. Essa
possível extorsão NUNCA foi comprovada, baseada apenas em
testemunhos.
De
acordo com investigações posteriores, descobriram que os policiais
estavam à revelia do batalhão, do centro de comunicações e que a
guarnição formada não era a que deveria estar presente naquele
momento.
A
EXPLOSÃO
Dia
29 de agosto de 1993 – jogo entre Brasil e Bolívia. Por volta da
meia-noite, alguns homens encapuzados e fortemente armados entraram
em Vigário Geral e fizeram 21 vítimas que sequer tiveram chance de
se defender:
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na Praça Córsega, um grupo metralhou todos os trailers de
ambulantes que vendem bebidas e refrigerantes e fez a primeira
vítima, Fábio Pinheiro Lau, de 17 anos. Depois executou Hélio de
Souza Santos, de 38 anos, metalúrgico desempregado.
Em
seguida, um grupo chegou ao Bar do Caroço, na rua Antonio Mendes, de
propriedade do aposentado Joacir Medeiros, 69 anos, dando “boa
noite”; todos responderam. Um dos homens quis saber quem
trabalhava: todos trabalhavam; deram o entender que iam embora, mas
um encapuzado jogou uma bomba de efeito moral e iniciaram os tiros.
Morreram Joacir; o enfermeiro Guaracy Rodrigues, de 33 anos, caiu no
salão; o serralheiro José dos Santos, de 47 anos, no balcão; o
motorista Paulo Roberto Ferreira, de 44 anos, caiu no banheiro; o
ferroviário Adalberto de Souza, 40 anos, e o metalúrgico Cláudio
Feliciano, de 28 anos, no depósito; e Paulo César Soares, de 35
anos, em um corredor sem saída.
Mais
dois grupos agiam pelas ruas: um grupo que cortava fios dos telefones
públicos e, ao se depararem com o gráfico Cleber Alves, de 23 anos,
que ia para casa – que segundo testemunhas implorou para não
morrer – o mataram ali mesmo.
O
outro grupo estava na rua de acesso a outro bar e, pelo caminho,
vinham 2 amigos que foram assassinados: Clodoaldo Pereira, de 21
anos, e Amarildo Baiense, de 31 anos. Perto dali, vinha o mecânico
Edmilson Costa, de 23 anos, que também voltava para casa, com sua
esposa, Rose Maria, de 25 anos, e as duas filhas pequenas. Os
assassinos mandaram ela correr com as duas filhas sem olhar para
trás: mataram Edmilson.
Invadiram
a casa em frente, de uma família de evangélicos, pertencente ao
vigia Gilberto Cardoso dos Santos, de 61 anos. Todos dormiam e
Luciano, de 24 anos, acordou com o barulho e quis saber o que estava
acontecendo... recebeu ordem para que não levantasse. Mataram
Luciano e Lucinéia, de 23 anos, no quarto, mataram dona Jane, de 58
anos, abraçada com a nora Rúbia, de 18 anos e, aos seus pés,
ficaram os corpos do marido Gilberto e da filha Lúcia, de 33 anos.
Na sala, Luciene, que completaria 16 anos na semana seguinte, foi
estuprada e assassinada no sofá. Lucinete, de 27 anos, caiu perto da
porta. Os assassinos mandaram quatro crianças, entre 9 e 5 anos,
taparem o rosto antes de morrer – um dos criminosos não concordou
e mandou que as crianças fugissem... quem liderou a fuga foi a
menina de 9 anos que carregava no colo sua prima, um bebê de 15
dias.
Vigário
Geral virou uma praça de guerra: a população não permitia a
entrada de policiais e agiam com as únicas armas das quais
dispunham: gritos, pedras e paus.
PROCESSO
A
primeira lista de suspeitos foi apresentada ao Ministério Público
por um ex-policial militar, Ivan Custódio, que caiu em contradição
no decorrer do processo. Inicialmente, disse que soube do fato na
segunda-feira imediata ao crime por um dos acusados, o soldado José
Fernandes Neto – seu sócio em barcos de pesca em Sepetiba e
integrante de uma quadrilha da qual ele fazia parte – tomando
conhecimento de todos que participaram da chacina... depois, pediu ao
juízo para se retratar.
Essa
lista tinha policiais militares do 9º BPM, policiais do DESIPE,
garis... segundo um depoimento, após o assassinato dos policiais,
houve um acordo para “cobrar” dos traficantes a morte dos
policiais, porém, os policiais do BOPE ocuparam a favela... mas a
deixaram no mesmo dia. Nunca se soube QUEM deu ordem para o BOPE sair
de Vigário Geral. Segundo Emir Larangeira, se o BOPE não tivesse
saído, a chacina não teria ocorrido.
No
início das investigações, foram presos cinco policiais militares,
no Batalhão de Choque, no centro do Rio: na casa de um policial
chamado Hélio Vilário, a polícia encontrou dezessete capuzes, uma
peruca e uma mira laser para pistolas; na residência de um cabo
chamado Paulo Roberto, descobriu uma carga pesada de armamentos,
inclusive munição para pistolas 380, 45 e 9mm e fuzis AR-15, além
de um Santana verde metálico semelhante ao carro visto por uma
testemunha da chacina.
Dos
51 policiais militares denunciados no processo, apenas 7 foram
condenados, alguns morreram no decorrer do processo, outros foram
absolvidos e alguns estão foragidos.
Condenados:
→
Paulo
Roberto Alvarenga, à 449 anos e 8 meses de prisão, em abril de 1997
e, através de um Habeas Corpus, obteve o reconhecimento de crime
continuado e o STF reduziu sua pena para 57 anos. Houve novo recurso
da defesa – Protesto por Novo Júri – condenando, por
unanimidade, em 24 de julho de 2005 à 30 anos. Em liberdade
condicional.
Paulo Roberto Alvarenga |
→
José
Fernandes Neto, condenado à 45 anos em 2000, confirmou a
constituição de uma sociedade informal com o sargento PM
assassinado, Ailton, por 2 anos e que tinham três barcos aportados
em Sepetiba e Angra dos Reis. Após Protesto por Novo Júri, foi
condenado à 30 anos também por unanimidade. Recebeu livramento
condicional em 2006.
→
Arlindo
Maginário Filho, condenado à 441 anos e 4 meses de reclusão, em
novembro de 1997, também teve sua pena reduzida pelo STF e, no
segundo julgamento, foi ABSOLVIDO por falta de provas; também
acusado de participação na Chacina de Acari – que já prescreveu.
→
Sirley
Alves Teixeira, condenado a 59 anos e 6 meses de reclusão em
setembro de 2003, após ser preso em um assalto à banco (estava
foragido). Também fora condenado anteriormente por porte ilegal de
arma, uso de documento falso e à 8 anos de reclusão por roubo (este
pela Justiça Federal), além de, na época, responder a outro
processo por homicídio. Não conseguiu provar que estava de serviço
em uma cabine da PM, na Praça Seca, na noite do crime. ÚNICO que
permanece preso até hoje... acredito que não por causa deste
episódio.
→
Adilson
Saraiva da Hora, condenado a 72 anos de reclusão, também acusado de
participação na Chacina de Acari. Em seu segundo julgamento, foi
ABSOLVIDO por falta de provas.
→
Alexandre
Bicego Farinha, condenado à 72 anos de reclusão no ano 2000; no ano
de 2003, levado novamente à julgamento, foi condenado à 59 anos e 6
meses. Foi assassinado em Realengo, no dia 12 de maio de 2007, por
suposto envolvimento com a exploração de transporte ilegal na
região. Estava em um automóvel Fiat Strada, na companhia de dois
sobrinhos, um deles atingido por disparos, morreu no hospital. A PM
não soube explicar porque ele estava em liberdade.
Leandro Marques da Costa, o "Bebezão" ou "Miúdo" |
→
Leandro
Marques da Costa, foragido, NUNCA foi julgado pela chacina. Segundo
informações, foi o pivô do assassinato da família de evangélicos
por ter tirado o capuz e a peruca loira dentro da casa... dizem que
já o viram trabalhando como taxista no subúrbio do Rio.
Documentário completo sobre Vigário Geral
Reportagem sobre os 18 anos do crime
Fonte:
Extra online
Estadão.com
R7.com
– Blog “Onde o vento faz a curva lagoinha”
Tribunal
de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
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